ARTIGOS TEOLÓGICOS - PARTE III

ARTIGO 013 - Teologia Sistemática Pentecostal(?)

Nacional ou bibliográfica?

Parabenizamos a CPAD pela publicação da obra : “Teologia Sistemática Pentecostal” , de autoria de vários autores assembléianos brasileiros , homens dotados de um profundo conhecimento bíblico , capazes de dar a igreja nacional o puro mel da Palavra de Deus.

Para um teólogo , as obras de teologia sistemática podem ser reconhecidas através dos seus autores e conteúdos. Para um crente comum , isso se dá pela paixão de ler as Escrituras como inspiradas pelo Espítito Santo através das pregações e exposições doutrinárias dos ministros pastorais e educacionais da igreja do Senhor Jesus Cristo.

A obra “ teologia sistemática pentecostal” , merece nosso apreço e consideração , por se tratar de uma suma teológica confeccionada a partir das crenças dos seus autores , bem como da posição doutrinária da Assembléia de Deus no Brasil. Há , contudo , uma observação a ser feita : se ela é uma produção da reflexão teológica dos seus escritores ou apenas uma copilação bibliográfica de manuais sistemáticos dos americanos e europeus. Penso , que a obra é o resultado dos dois fatos , isto é , da cooperação da inteligência dos seus autores e da pesquisa bibliográfica de profundas obras a respeito dos estudos teológicos.

Só para termos uma rápida idéia , verifiquei que o capítulo de que trata a doutrina do pecado (hamartiologia) , de autoria do pastor Elienai Cabral , contém cerca de 20 citações bibliográficas. Daí a pergunta? Até que ponto a Teologia Sistemática Pentecostal pode ser considerada uma obra de produção nacional dos nossos teólogos assembleianos?

Considerando que a obra é de suma importância para o aprofundamento nos estudos academicos e na vida cristã do crente pentecostal , fica notório que o trabalho dos nossos pastores e teólogos , responsáveis pela referida obra , passará a posteridade assembleiana como testemunho de fé e doutrina para a história das assembléias de Deus no Brasil. Eles merecem o nosso louvor , apesar de que o conteúdo da obra não pode ser dito que é totalmente nacional ou comentário isento de citações bibliográficas . É claro que todo manual de teologia sistemática cita outros tratados , mas o que deve ficar entendido , é que a nobre obra não existe sem o arcabouço de renomadas obras academicas de teólogos de diferentes tradições cristãs. Esta é a razão pela qual não posso concordar , teologicamente , que a obra contém o pensamento teológico pentecostal da Assembléia de Deus do ponto de vista da sua cultura , fé e ethos .

Conclusão: o pastor Claudionor Corrêa de Andrade , discorrendo no capítulo I , da citada obra , sobre a doutrina das Escrituras , cita teólogos como Martinho Lutero (Reformado) , Tomás de Aquino (Católico) , Calvino (Reformado) , Karl Barth ( Neo-ortodoxo) , Antônio Gilberto (Pentecostal) , Martyn Lloyd-Jones (Anglicano) e João Wesley (Metodista) , entre outros , simplesmente para falar acerca dos fundamentos bibliológicos das Escrituras Sagradas , o que , de fato , deixa-nos perceber que a produção teológica não é totalmente nacional , pois só foi possível em cooepração bibliográfica de manuais e teólogos de outras confissões e abordagens acadêmicas sobre a doutrina cristã professada no ocidente.

Leia: Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008

ARTIGO 014 - Relativismo Histórico e Cultural e a Interpretação da palavra de Deus

Dr. Roberto dos Santos

É comum hoje em dia notarmos interpretações tendenciosas sobre a Palavra de Deus com a chamada nova hermenêutica onde são discutidos os elementos hermenêuticos e culturais que envolvem o sentido do texto bíblico. O estado atual do serviço missionário encontra-se em crise, porque existe um trabalho de divulgação através de teologias étnicas contextualizadas que, muitas vezes, refletem a visão de um relativismo radical em relação à doutrina absoluta do Evangelho de Jesus Cristo e sua comunicação no mundo pós-moderno. Mas o que isso poderá significar para o cristianismo evangélico?

Relativismo radical nega que uma pessoa possa ter como verdadeiro o conhecimento de qualquer coisa fora do seu contexto histórico ou cultural. Ele nega que o conteúdo moral possa ser universal, já que não há uma norma suficiente, capaz de julgar a verdade entre os concorrentes, neste caso em especial a Palavra de Deus e as reivindicações éticas dos diferentes contextos.

Aqueles que possuem essa visão dizem que não há verdades como ética universal, porque não há verdades absolutas. Eles dizem que nem pode haver qualquer valor universal, porque não há julgamentos transculturais. Finalmente, eles declaram que não pode haver autoridade de texto sagrado, pois todos os textos religiosos são o resultado de uma cultura específica e historicamente condicionados a um determinado cenário sócio-cultural e antropológico. Isso deve incluir também, as Escrituras sob a ótica do pensamento pós-moderno. Isso significa que a hermenêutica bíblica, neste momento, vem enfrentando dois grandes desafios.

1. O primeiro é o do relativismo histórico. Este afirma que uma obra ou um texto, composto em um tempo antigo e de uma cultura milenar, tem o seu significado para uma determinada época e cultura. Portanto, em nosso tempo pode ter um significado diferente, ou mesmo nenhum significado especifico. Aqueles que advogam essa opinião chamam a nossa atenção para o fato de que o contexto cultural do passado tem influenciado os autores dos textos e, portanto, afetaram o sentido de seus textos originais.

2. O segundo desafio vem do relativismo cultural. Afirma que todos os valores e a moral são relativos aos aspectos sócio-culturais do próprio contexto. Isso significa que um modelo de cultura não pode ser considerado como superior a qualquer outra forma de cultura. Este ponto de vista tem como objetivo chamar a atenção para o fato de que o leitor moderno ou intérprete de um texto antigo serão inevitavelmente influenciados por sua diversidade culturais presente contexto.

Se for racional pensar que um desses dois pressupostos ou efetivamente os dois significam a verdade dos argumentos, então a mensagem da cruz está profundamente comprometida com o relativismo histórico-cultural. Neste caso, a autoridade de nossas escrituras sagradas nunca poderiam serem vistas como universalmente válidas ou aceitas como relevantes para o mundo pós-moderno. As Escrituras Sagradas seriam apenas um conjunto de textos como qualquer outro, de outra tradição religiosa ou filosófica. Podemos questionar o relativismo histórico-cultural com argumentos precisos da hermenêutica bíblica, porque a hermenêutica dos textos sagrados e a base de interpretação da Palavra de Deus. Mas se esta interpretação bíblica partir da perspectiva da antropologia cultural e da psicologia naturalista, então devemos concluir que as Escrituras Sagradas já não é a autoridade absoluta em matéria de fé e prática cristãs. Posições filosóficas, políticas, sociais e cientificas podem assumir o controle de influencia de interpretação das Escrituras Sagradas se não tomarmos uma posição radical com base no raciocínio da teologia e, por outro lado, assumirmos o nosso compromisso com a verdade de Jesus Cristo como revelação histórica de Deus no mundo. Na verdade já existe no mundo pós-moderno como em outras épocas forças contrárias ao significado da Palavra de Deus para a libertação espiritual da humanidade fracassada pelo resultado do pecado adâmico.

O Conselho Mundial de Igrejas, em sua declaração de Fé e Ordem em uma Conferência realizada em Louvain, em 1971, fez uma afirmação preocupante. Este órgão ecumênico declarou que é o contexto cultural contemporâneo, que determina o significado, a interpretação e a aplicação dos textos bíblicos. Tal posicionamento teológico-hermenêutico tornou-se um forte argumento para os opositores da fé cristã, e abriu as portas para o advento do pluralismo religioso no mundo pós-moderno. Os cristãos evangélicos, especialmente os pentecostais que acreditam na ação do Espírito de Deus na história não devem aderissem a esta escola liberal de interpretação da Palavra de Deus no mundo de hoje.

Nós evangélicos devemos estar cientes desta nova mentalidade missiológica, especialmente no que diz respeito ao trabalho prático de evangelização da igreja, incluindo também, os artigos clássicos da fé cristã. Esta posição do Conselho Mundial de Igrejas coloca a mensagem de Jesus Cristo como mais uma alternativa dentre várias das propostas de fé das mais diversas crenças religiosas do mundo atual. É uma teologia pluralista em que Jesus é apenas uma das possibilidades de chegar a Deus ou a verdade religiosa, se é que há verdade religiosa no mundo pós-iluminista. Entretanto, a revelação histórica e espiritual de Deus (Cf. Jo 1.18; 14.6). Temos de desafiar à luz da Palavra de Deus e dos argumentos racionais disponíveis toda a crítica praticada contra o evangelho de Jesus Cristo e sua permanência em uma sociedade pluralista, bem como dentro de um contexto chamado relativista. Precisamos urgentemente preparar em exercito de teólogos ungidos pelo Espírito Santo e embasados em ferramentas cientificas, tais como hermenêutica, lingüística, semiótica, sociologia, antropologia, física, etc., cuja missão seria a defesa da fé cristã a partir do diálogo com os centros de estudos acadêmicos, os órgãos públicos, igrejas e instituições teológicas. Com esta missão não aceitaremos as imposições do relativismo radical que tenta sufocar o significado da Palavra de Deus. É muito perigosa a proposta de certas teses dos teólogos ligados a etinoteologia. Podemos sim, considerar os benefícios das ciências sociais e humanas, mas nunca devemos retroceder a revelação dada à igreja como se encontra no Texto Sagrado.

Mas o do que se trata a etinoteologia? Etinoteologia é tentativa de combinar Teologia própria, que é o estudo de Deus com a Antropologia, que é o estudo do homem. Certos teólogos que a partir do estudo da antropologia moderna, podemos descobrir o que eles chamam de verdades culturalmente relevantes. Ensinam também podemos perceber como o significado é comunicado dentro de uma cultura ou entre culturas. Argumentam que a Teologia própria só pode ter sentido através de interpretações em relação aos aspectos culturais ao invés de vir a ser verdade absoluta supra cultural sobre Deus e sua provisão para as necessidades humanas e as condições para recebê-la. A verdade da Palavra de Deus não é uma verdade surpacultural, ela é uma verdade absoluta e incondicional. O Espírito de Deus é o responsável pela comunicação da Palavra de Deus dentre as mais diversas tradições culturais ou religiosas, pois uma vez que o mesmo inspirou a Bíblia Sagrada como o testemunho salvifico de Deus no mundo não possível pensar que os limites de uma determinada cultura seria capaz de impedir a pedagogia do evangelho de Jesus Cristo. O existe, de fato, é uma cruzada da pós-modernidade contra a expansão da mensagem de redenção na pessoa de Jesus Cristo.

A divisão entre Oriente e Ocidente começa a ocorrer após o Concílio de Calcedônia em 451 AD, e o cristianismo tornou-se a partir dessa época uma religião muito ocidentalizada, deixando o resto de o mundo a seguir seu próprio caminho. Muito do estudo da teologia, portanto, vem surgindo como um problema muito real para os nossos irmãos não-ocidentais. Temos as Escrituras Sagradas e as mesmas verdades supraculturais. No Oriente, eles podem desenvolver sua própria Hermenêutica e, em seguida formular a sua própria teologia e expressá-la em seu ambiente cultural. Isso não é questão de sincretismo, mas de contextualização da teologia.

Os defensores da etinoteologia propõem o que chamam de três pilares da ciência hermenêutica segundo os quais nós podemos ser capazes de descobrir as verdades sobrenaturais. Podemos começar enumerá-los do seguinte modo:

1. Reconhecendo que há uma humanidade comum, na qual todos nós participamos que está com o mesmo perfil físico, psicológico, cultural e necessidades sociais. No entanto alguns pesquisadores têm observado que agora que a maioria das formas de relativismo cultural está morta. As sociedades estão à procura de universais no processo evolutivo da linguagem, das estruturas da mente, e dos fatores de senso comum;

2. Levando em conta a mensagem imutável de Deus, que não perdemos absolutamente em traduções;

A Hermenêutica da Palavra de Deus pode, dentro de um processo cultural ser é constituída por cinco elementos:

1. A linguagem humana que ajuda a comunicar o sentido da Palavra de Deus através do tempo e da cultura; 2. Um Deus fiel, que fala universalmente a verdade absoluta iluminada pelo Seu Espírito, 3. A absoluta inspiração da Palavra de Deus, que tem por objetivo instruir a humanidade em todas as gerações e culturas; 4. A própria humanidade, cuja unidade é mais de base do que a sua diversidade cultural; 5. Um quadro histórico, que vê toda a humanidade com base no evento de Cristo: cruz e ressurreição no mesmo processo histórico-escatológico.

Diante de todas essas questões levantadas pelos estudos teológicos e científicos como é que vamos interpretar/ comunicar a Palavra de Deus? Por isso, quero dizer como é que começamos a interpretar as Escrituras Sagradas? Onde está o ponto de partida? Para usar duas expressões técnicas, perguntamos: é com a ortodoxia ou com a ortopraxia? Ou seja, vamos começar com as nossas experiências de vida, ou seja, com a nossa situação socioeconômica do contexto cultural e formular o método através da Palavra de Deus e, enfim, explicar as nossas experiências? Ou vamos começar com a Palavra de Deus e suas verdades reveladas, comunicadas a todos os povos formando-se as nossas convicções teológicas e, em seguida, avaliarmos as nossas experiências? Enquanto a maioria dos teólogos ocidentais podem ter esquecido ao longo das experiências que moldaram os seus fundamentos teológicos, eles estão percebendo que a sua ortodoxia pode ter substituído a ênfase anterior sobre ortopraxia. O mundo ocidental, bem como o oriental está produzindo suas próprias teologias contemporâneas, por exemplo, a Teologia da Libertação na América do Sul e Teologia Negra, na África, a teologia feminista, no Ocidente, e Teologia Oriental na Índia. Por conseguinte, todas essas correntes hermenêuticas teológicas tem enfrentado dificuldades acadêmicas e eclesiásticos por causa de seus posicionamentos espirituais sobre determinados tópicos relacionadas à dogmática evangélica. Não podemos substituir o evangelho de Jesus Cristo por escolas teológicas particulares desassociadas do conteúdo de fé da revelação bíblica como se acha na Bíblia Sagrada.

Queremos ser fiéis a Palavra de Deus porque é importante para a presença da igreja na história, a fim de que possamos comunicar a verdade de Deus de uma forma significativa.

ARTIGO 015 - Pregadores ou Profissionais do Púlpito

Nunca na história do cristianismo ocidental surgiram tantos “comunicadores do evangelho” como agora no século XXI. A razão de tal fenômeno, talvez, seja em decorrência das políticas de liberdade de consciência e de expressão, bem como do esvaziamento dos seminários teológicos sérios que visam à preparação de ministros do evangelho. Estamos na era digital! Mas também estamos na era do oportunismo eclesiástico, da vã glória perdida da egolatria. Pregadores são aqueles que proclamam a Boa Noticia de Jesus Cristo: morte, ressurreição e segunda vinda. Os “comunicadores do evangelho” apenas visam o lucro, a fama e o poder. As ovelhas de Jesus Cristo são tratadas como “investidoras do reino”, mantenedoras dos charlatões da fé, escravas dos predadores espirituais, patrocinadoras dos “artistas de Deus”. A moda agora é ser gospel como se o gospel fosse a performance do cristianismo de Jesus Cristo.

Os nossos púlpitos foram invadidos por esses profissionais da religião, tanto interpretes da música sacra quanto manipuladores de palco. São verdadeiros lobos vestidos de ovelhas. A intenção dessa gente que de Deus nada tem é só uma coisa: explorar os humildes, gente sem conhecimento de causa, gente simples e sem cultura.

O Brasil vive uma verdadeira crise de identidade teológica profunda, por isso é tempo de Deus levantar vozes proféticas, capazes de mudar o curso da história do evangelismo nacional. Cobrar fortunas para cantar e pregar, além de exigir hotéis de luxo, carro importado, etc., é o que muita gente anda fazendo nas igrejas do Brasil. Até quando os nossos pastores vão continuar aceitando essa farsa espiritual em nome de Jesus? Até quando vamos ficar assistindo a shows como se fossem cultos de adoração e louvor a Deus? Até quando “esses prostitutos de púlpito continuarão seduzindo o povo de Deus? Será que não tem ninguém com o poder da mídia para denunciar essa apostasia que invade as nossas igrejas? Onde estão os grandes televangelistas do nosso país? E as convenções o que estão a dizer sobre tudo isso? Não podemos aceitar essa situação. É tempo de limpeza, separar a igreja das obras da carne.

O Brasil não está avivado, ele está é agitado com muito movimento da carne; ele está seduzido pelo espírito da mentira, e com certeza o Espírito Santo irá usar homens ungidos para por um basta em toda essa palhaçada religiosa. Vamos lutar por uma igreja santa, por um evangelho bíblico e por uma esperança inegociável. Lute pela sua fé meu irmão!

Os verdadeiros pregadores são aqueles não negociam o púlpito, que não difamam o Único e Soberano Senhor que os resgatou na cruz do calvário, que não mentem em nome do Espírito Santos. Igrejas que aceitam em seus cultos ou reuniões grupos de dança, campanhas para arrecadar dinheiro para beneficiar falsos pregadores, artistas do louvor que cantam simplesmente para que os seus nomes permaneçam na mídia, não passam de “sinagogas de satanás”. Não congregue em igreja que tem perfil de palco de curtição! Igreja não é pista de dança, é CASA DE ORAÇÃO para todos os povos, diz a Palavra de Deus.

ARTIGO 016 - Teólogos ou Ilusionistas?

Roberto dos Santos

O Brasil é campeão de pseudo-teólogos. Mas, afinal de contas, como identificar um ilusionista teológico? Primeiramente, teólogo é o profissional da educação cristã com formação acadêmica nas grandes áreas da enciclopédia teológica: sistemática, bíblica, história e prática. Além de sua formação epistemológica e espiritual, é capaz de interpretar textos bíblicos, escrever obras teológicas e formular teses originais acerca dos fundamentos teóricos da fé. Por outro lado, o ilusionista teológico só consegue exibir seu “diploma”, que muita das vezes obteve através de caminhos duvidosos ou suspeitos, pois o que caracteriza o exercício ilegal do ministério teológico são exatamente a incapacidade de discussão acadêmica, disputa ou debate sobre qualquer tema relacionado à ciência teológica. Mesmo estudando numa instituição por correspondência ou de renome tradicional como nos grandes seminários teológicos batistas, presbiterianos, metodistas ou pentecostais , só pode ostentar o grau de teólogo o laureado que fez jus ao titulo , demonstrando profundo conhecimento das mais diversas áreas dos estudos teológicos.

O ilusionista teológico só engana, quer no ministério pastoral, quer na academia teológica, quem realmente não entende absolutamente nada sobre o tema em questão. Por conseguinte, o ilusionista teológico passa por “perito da fé”, uma vez que os menos informados , e os discípulos que o acompanha nos corredores das “ ruínas teológicas” são seduzidos pela psicologia da serpente.

Seja teólogo de verdade! Estude em instituição que sabe ensinar e que possui excelentes professores formadores por academias com creditação educacional. Não fique a mercê de quem não sabe nem mesmo discernir a diferença do alfa para o alef. E mais: o ilusionista teológico acaba montando nas bases heresiológicas dos fariseus suas escolinhas de profetas.

ARTIGO 017 - Você é "Doutor em Divindade" ?

Todos os diplomas de "doutor em divindade" , expedidos no Brasil por seminários e faculdades livres de teologia não possuem nenhuma validade acadêmica , pois os referidos titulos são de natureza eclesiástica livre. Compete a CAPES através das Universidades Públiccas e Particulares avaliarem , recomendarem e reconhecerem os cursos de mestrado , doutorado , livre-docência e pós-doutorado para o excercicio legal da profissião de docente e pesquisador.

Não existe no Brasil curso de DD (doutorado em divindade). Somente a universidade de Cambridge na Inglaterra é que oferece o programa acadêmico de DD (doutorado em divindade) em três anos de curso . Nos Estados Unidos , Europa e América Latina , os titulos eclesiásticos de DD (Doutor em Divindade) servem apenas para o reconhecimento espíritual e eclesiástico do ministro do evangelho e/ ou pessoas ligadas aos estudos bíblicos e teológicos , tais como os professores e teólogos do cristianismo. Nenhuma pessoa portadora de DD é merecedora de ostentar o grau de doutor , a não ser que , a mesma a fez merecer , fazendo exame de duas linguas estrangeiras e ter sido aprovado em todas as disciplinas do programa acadêmico de uma Universidade ou Faculdade de teologia chancelada por uma Universidade no seu pais de origem. Além disso , é necessário a defesa de uma tese original capaz de demonstrar capacidade de estudo e pesquisa. Não é qualquer pessoa por aí que aparece com diploma de "doutor em divindade " que a gente vai prestar hoe honra são poucas que merecem Louvor! Diploma de doutor em divindade não se compra e não se vende . Doutor em divindade é alguem que fez juz após ter sido avaliado por um corpo de profissionais competentes em teologia.

Roberto dos Santos

PhD em Estudos Religiosos pela Friends International Christian University

Docente Superior pela Universidade Gama Filho

ARTIGO 018 - Utopia, Distopia e Esperança
Dr. Roberto dos Santos


Utopia é uma palavra formada por um prefixo (u) e um substantivo (topos). O prefixo significa “sem” e o substantivo “lugar”. O que isso quer dizer? Utopia é uma expressão cunhada para designar uma concepção, uma representação de um lugar, de uma situação, de uma realidade que, hoje - aqui e agora – não existe.

A concepção otimista de G.W.Leibniz (1646-1716), de que este mundo é o melhor dos mundos possíveis (pois de outra forma Deus não o teria criado), não deixa espaço para nenhuma idéia de utopia, pois não haveria como supor a existência de um mundo melhor desde o ponto de vista teológico. Como as concepções utópicas dependem, porém, de uma perspectiva antropológica (e mesmo antropocêntrica), as evidentes mazelas morais, políticas e econômicas do quotidiano dos homens, experimentadas no curso da história, levam a deixar de lado otimismos teológicos (na melhor das hipóteses: colocá-los no plano das utopias morais) e a elaborar imagens de “outro mundo” (utopia), perfeito com relação a “este mundo” (distopia), marcado pelas lacunas e pelos desvios.

Partindo do ponto de vista filosófico de Leibniz a hermenêutica teológica seria abandonada a mercê do curso da história sem levar em consideração a escatologia bíblica. Mas por outro lado, fica evidente pelas Escrituras Sagradas que a Utopia humana constitue-se apenas na tentativa de construir o “Éden Perdido” no campo das relações sociais.

As utopias elaboradas pelos teóricos ou pelos sonhos perdidos da imaginação dos homens, fundamentam-se principalmente, nos contratos morais e na busca de uma vida melhor a partir do progresso social. A teologia , diferentemente do que pesam os céticos , não está alicerçada no jogo das intenções políticas, morais e econômicas das relações sociais, mas única e exclusivamente no evento escatológico da vitória de Cristo sobre a morte. É a ressurreição de Cristo que fundamenta a Esperança da Igreja e a possibilidade de um mundo melhor, absolutamente superior a concepção filosófica de Leibniz.

A utopia é, por assim dizer, a busca do “eldorado” pela construção de uma escatologia social; é a superação do aqui e agora na busca de um mundo melhor. Na utopia social Deus nada mais é do que uma “autopia”, ou seja, a negação da própria utopia do ponto de vista de uma escatologia ou de uma metafísica do povir.

“Este mundo “ (distopia) marcado pelas lacunas e pelos desvios é o resultado da queda espiritual e moral do ser humano (Gênesis 3). O Evangelho de Jesus Cristo procurar elaborar uma interpretação escatológica do reino de Deus em relação a história universal, pois o Governo de Deus inclui toda a civilização mundial. As utopias e as distopias desenham cenários, às vezes otimistas ou pessimistas, dependendo da abordagem literária, filosófica ou social de cada autor, grupo ou sociedade, mas nenhum é capaz de superar a concepção teológica da esperança cristã que supera a todas as utopias, pois em sua essência, não é utopia, é a esperança de um mundo melhor no poder de Cristo sobre a morte, o inferno e o diabo. Em outras palavras, a escatologia cristológica é a escatologia da fé. É a esperança que solidifica a fé.

A narrativa bíblica como fundamento da fé teísta. A teologia cristã percebe Deus o tempo todo agindo na história. A história segue seu curso natural (livre-arbítrio) em função da liberdade humana. Como isso não impossibilitou a intervenção de Deus nos eventos sociais. Os eventos sociais são marcados para preencher a necessidade de correção do gênero humano e levá-lo a compreender que o esforço humano é incapaz por si só de manter o equilíbrio da situação. A presença de Deus na história garante a consciência humana a possibilidade de não perder a esperança de um mundo melhor onde Deus irá revelar sua glória e seu poder. A fé teísta é a fé da teologia das relações sociais; é a fé na idéia de um Deus que se revela para participar da história e não apenas para julgá-la.

A narrativa bíblica da encarnação, morte e ressurreição de Cristo aponta para três etapas da esperança cristã: existência, não existência e pós- existência. Alguns homens só conseguem enxergar esta existência quando a visão de mundo é otimista; outros, a não existência , por não acreditarem mais ou nunca terem acreditado no amanhã. Diferentemente daqueles que vivem à margem da existência e da não existência estão aqueles que optaram pela pós-existência sem negar a existência ou mesmo omitir as mazelas do seu tempo decidiram esperar por um mundo melhor sob a perspectiva da esperança cristã.

Além dessas considerações teóricas, o teólogo Moltmann usa extensivamente sua interação crítica com o filósofo revisionista marxista de Tübingen, Ernst Bloch. Bloch produziu uma enorme obra filosófica utópica baseada numa mistura da escatologia cristã com a análise científica social marxista intitulada Das Prinzip Hoffnung (O Principio da Esperança). Para Bloch, a esperança de um “lar” onde o indivíduo supere toda forma de alienação e encontre plenitude é um instinto humano fundamental que impulsiona a História à utopia através das mudanças revolucionárias. O filósofo desenvolveu uma ontologia do “ainda não ser”, na qual a utopia ainda não realizada excerce poder sobre o presente e o passado, dando origem ao” transcender sem transcendência” humana.

O renomado teólogo Multmann toma muita coisa emprestada dessa ontologia do futuro desenvolvida por Bloch, mas acrescenta uma forte crítica sobre o “transcender sem transcendência”. Para ele, a visão de Bloch de que a humanidade pode encarar o futuro com esperança e transcender suas circunstâncias rumo à utopia sem Deus é uma ilusão.

Um futuro histórico sem o céu não tem como ser uma antecâmara de esperança e motivação para qualquer movimento histórico. Um “transcender sem transcendência”, tal como Bloch propõe , transforma a eternidade numa indefinição sem fim e torna a luta pela plenitude um mero “ir levando”. Jürgen Moltmann, “Hope Without Faith: Eschatological Humanism without God”, trad. John Cummings, Is God Dead? Concilium, vol. 16, org. Johannes Metz (Nova York: Paulist, 1966), 37-40.

Ser cristão é continuar lutando pelo valor da vida e nunca perder o norte escatológico da fé.